sexta-feira, 7 de março de 2014

Precariacções 25

Editorial

Dia 8 de Março, dia internacional da mulher. Este dia deve ser celebrada de forma a enaltecer as mulheres trabalhadoras, que são quem mais sofre e quem mais trabalha, e não nos deixarmos enganar por campanhas que nos dizem que hoje em dia o feminismo não faz sentido. Enquanto houver mulheres a desempenhar as mesmas tarefas que o homem e a receber menos, enquanto foram apenas as mulheres a desempenharem a dupla jornada de trabalho, enquanto forem as mulheres a sofrer pressões no trabalho e a ficarem mais desempregadas por engravidarem e por cuidar dos filhos, a luta das mulheres fará todo o sentido. São as mulheres que sofrem mais e isso não é bom para todos nós. O sofrimento e a exploração continuarão e estarão aí para durar. O FMI, depois de nos tentarem fazer crer que a crise está a acabar, já veio dizer que Portugal tem de cortar ainda mais 3 mil milhões para cumprir o défice previsto para 2015 e propõe que se cortes ainda mais nas pensões. Bruxelas também já disse que é preciso baixar os nossos salários entre 2 a 5% de forma a colocar a taxa de desemprego e o endividamento externo a um nível mais sustentável, todos os dias há empresas a fechar portas, todos os dias os nossos serviços de saúde e educação sofrem cortes e qualidade. Todos os governos e instituições apelam a um sacrifício em nome do bem comum, mas o que eles se esquecem é que para pagar a corrupção e o bem-estar da vida de apenas uma minoria, há milhões de pessoas em condições cada vez desumanas. Aqui no call-center nós sentimos isso também na pele: é trabalhar cada vez mais por menos, horas extras pagas a valores irrisórios, mais trabalho e mais responsabilidade e zero regalias! Muitos de nós pensam o mesmo: fazer uma grande luta e exigir aumento de salários e mais condições, mas todos temos medo (todos sabemos que os despedimentos são uma coisa banal aqui dentro). Por isso, precisamos de alguém que nos represente. É importante a criação de um sindicato de call-centers para travar esta ofensiva que fazem às nossas vidas todos os dias!


sábado, 4 de janeiro de 2014

Precariacções 24

É preciso um sindicato de call-centers

Basta procurarmos as palavras "call center" no google para vermos que é dos poucos tipos de trabalho para os quais existem ofertas. Além de ser um dos sectores em maior crescimento no mercado de trabalho no nosso país (trabalham oficialmente mais de 40.000 pessoas neste sectores stimando-se que sejam muitos mais), deixou de ser um trabalho quase exclusivamente feito por jovens para passar a ter gente de todas as idades. Parece que hoje em Portugal as pessoas só têm 2 opções, emigrar ou ir para a um call center. Este trabalho é duro psicologicamente para o trabalhador, o stress, a pressão, o abuso e em alguns casos  o assédio, grassam um pouco por todo o lado, pela posição insegura e descartável em que nos colocam mas chega mesmo a ser perigoso para a saúde física. Em muitos sítios abundam relatos sobre ratos em edifícios ou ares condicionados que provocam todo o tipo de doenças respiratórias, entre tantas outras condições insalubres por esses call-centers fora onde colegas nossos são obrigados a faltar ao trabalho e perder a consequente remuneração desses dias e a empresa empregadora sempre ilibada de qualquer responsabilidade, apesar de ser a causadora dessa condição, e até usa a falta por doença como razão para ameaçar ou efectivamente despedir o trabalhador. Mas acima de tudo, este é um trabalho mal remunerado. Em quase todos os sítios se recebe à volta do salário mínimo. Isto muito  porque todos fazem milhões com este negócio, a começar pelas empresas que representamos até às empresas de trabalho temporário. Toda a gente sabe que estas empresas não contribuem em nada para o desenrolar do nosso trabalho e existem apenas para que as empresas para as quais efectivamente prestamos serviços ( neste caso a Apple e IBM) não tenham responsabilidades e deveres para connosco enquanto gananciosos facturam muitos milhões, dando a empresas como a Adecco e Randsatd outras tantos milhões e o salário sempre na mesma, isto é, baixo que mal dá para pagar contas. Existem para que não possamos ter direitos e segurança no posto de trabalho podendo ser despedidos a qualquer altura, com alguns colegas a terem contratos de 15 dias, renováveis às vezes, dispensáveis noutros e com a vida suspensa durante todo esse tempo, tal como muitos de nós aqui sentimos. Apesar de já sermos muitos com os head-sets presos à cabeça, os nossos direitos são todos os dias atropelados, não nos respeitam e são recorrentes os abusos, injustiças e más condições de trabalho. Perante isto, os sindicatos existentes nada fazem e por isso mesmo existe muita desconfiança dos colegas para com eles. Mas nós precisamos de uma ferramenta para lutar porque torna-se claro que trabalhar num call center vai ser uma situação cada vez mais comum. Os sindicatos são uma ferramenta essencial para os trabalhadores se organizarem e mobilizaram para a reivindicação dos seus direitos,  contra os abusos da entidade patronal. E nós não podemos estar sozinhos jogados à nossa (má) sorte, desprotegidos frente a chefes e patrões. Não pode depender apenas do trabalhador fazer valer os seus direitos individualmente, apenas com a sua voz com o risco óbvio de ser despedido, temos de mostrar uma frente unida contra os que nos exploram. É por isso que é necessário e urgente um novo sindicato dos trabalhadores dos Call-centers. Um sindicato combativo, democrático, de portas abertas e com presença nas empresas, criado por operadores de call center, para operador de call center. Um sindicato que possa ser uma ferramenta para lutar e defender os direitos e garantias destes trabalhadores. É necessário termos a nossa própria fermenta para acabar com esta pouca vergonha.